André Trigueiro
Professor, jornalista e autor do livro "Mundo Sustentável"
Professor, jornalista e autor do livro "Mundo Sustentável"
Nunca faltou espaço na televisão para revelar com chamadas alarmistas e imagens espetaculares as maiores catástrofes ambientais da atualidade : aquecimento global, vazamentos de óleo, enchentes, queimadas, etc. Quem depende da televisão para estar bem informado terá certamente mais motivos para acreditar que o mundo está chegando ao fim, que a humanidade não tem jeito e que o apocalipse é fato consumado.
Deveríamos prestar mais atenção aos efeitos colaterais causados por esse gênero de cobertura que esvazia a esperança, dissemina o pessimismo e desmobiliza os esforços na direção contrária. Se é verdade que experimentamos uma crise ambiental sem precedentes, também é verdade que jamais na História empreendemos tantos recursos humanos, financeiros e tecnológicos para corrigir o rumo. E isso precisa aparecer na televisão, de preferência ocupando outros espaços que não apenas o da última notícia, geralmente aquela que distoa da média dos assuntos destacados como importantes, pelos altos teores de “leveza e positividade”.
A sugestão também vale para roteiristas de novelas, minisséries e seriados. O que alguns poucos já fazem com extremo talento quando despertam a sensibilidade dos telespectadores para assuntos do cotidiano como violência urbana, crianças desaparecidas, dependência química, homossexualismo, etc, poderia ser replicado com mais frequência na exploração de alguns temas ambientais.
Em minisséries como “Amazônia” ou novelas como “Pantanal” a questão ambiental se confunde com o próprio enredo da trama, tendo como viés o preservacionismo. O desafio maior está em descobrir como os grandes temas urbanos na área da sustentabilidade podem inspirar parte da trama, como por exemplo a especulação imobiliária (33 anos depois depois de “O Espigão”, de Dias Gomes, o tema continua tão atual quanto ausente no vídeo), a escassez de água doce e limpa, a necessidade de investir em novas fontes de energia para enfrentar o aquecimento global, reaproveitamento dos resíduos, ausência de transporte público de qualidade, entre outros assuntos.
É possível criar personagens que não sejam estereotipados – ambientalista vestido de verde no melhor estilo “bicho-grilo”, ou usando roupa safári , ou ainda panfletário do tipo ecochato – e que estejam antenados com as grandes questões ambientais da atualidade em diversas situações. Pode ser motorista de táxi ou advogado, empresário ou sacerdote. Na vida real, esses assuntos já deixaram o gueto dos ecologistas, cientistas e biólogos para ganhar o mundo.
Seria ótimo aproveitar os programas infantis para disseminar com criatividade e talento os conceitos do consumo consciente. Livrar a criança do risco de vir a ser um consumidor compulsivo de produtos e serviços que a publicidade apresenta como necessários sem que na verdade sejam. Educadores ambientais poderiam ser consultados com mais frequência e regularidade em relação aos conteúdos produzidos para a garotada miúda. Este país em que a televisão alcançou um nível de sofisticação e qualidade reconhecidos internacionalmente é o mesmo que detém o maior estoque de água doce e limpa, a maior floresta tropical úmida, a maior quantidade de terra fértil disponível, entre outros indicadores importantes, todos ameaçados pela má gestão dos recursos naturais.
A televisão já realiza um serviço de extrema importância no diagnóstico dos problemas ambientais e na sinalização de rumo e perspectiva. Mas o senso de urgência revelado por inúmeros relatórios científicos que denunciam o risco iminente de colapso nos sistemas naturais que sustentam a vida, sugere atenção: talvez possamos fazer mais e melhor.
Fonte: www.mundosustentavel.com.br
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