Meio ambiente deve ser abordado em todas as editorias

LARISSA MOLINA


  Economia, cidades, política, cultura. São algumas das editorias encontradas em impressos, rádios, jornais online ou TV´s. O desafio do jornalista é se preocupar em ter um olhar ambiental para notícias de todas as editorias. É exatamente por esse motivo que alguns jornalistas não são a favor do uso do termo “jornalismo ambiental”.

“Tudo o que o ser humano faz tem impacto sobre o meio físico, ou seja, no solo, no ar, e em outros seres vivos. Então, seja qual for o tema tratado (econômico, político, cultural, entre outros) é preciso verificar os impactos de cada ação no meio ambiente”, diz o jornalista Washington Novaes, consultor de jornalismo da TV Cultura. “Acredito que não exista propriamente o jornalismo ambiental, porque não tem como tratar qualquer coisa sem chegar nessa questão do meio físico. Nem gosto da expressão ‘jornalismo ambiental’ porque dá a impressão de que é algo à parte, um gueto na comunicação”, continua Novaes.

No entanto, de acordo com o jornalista Carlos Nascimento, que  apresenta o Jornal do SBT, apesar de ser a favor da inclusão de informações ambientais em todas as matérias, isso não é uma preocupação presente na rotina dos jornais. 


Rotina X Eficiência: Adalberto Marcondes fala sobre o empenho do jornalista


  O desafio de diluir informações ambientais em reportagens de outras editorias é categorizado pelo jornalista da Globo News, Rui Gonçalves, como “o grande vilão do jornalismo”, . 

“Nós temos que pensar que as pessoas ainda não conseguem fazer um vínculo entre a questão ambiental, econômica e social, por exemplo. É difícil até mesmo para o profissional que realiza essa cobertura conseguir entender isso. Porque tudo sempre foi segmentado. E agora, essa interligação que hoje é necessária ainda não é bem compreendida”, fala Gonçalves.

Meio ambiente deve ser comum em notícias como a linguagem 


O jornalista responsável pelo grupo Envolverde – Jornalsimo e Sustentabilidade, Adalberto Marcondes, ressalta que, para ser eficiente ao tratar o meio ambiente em todas as editorias, é necessário estar atento para que a informação seja dada de forma contextualizada. Ele exemplifica três situações: quando se cumpre uma pauta a respeito de competição esportiva, é possível verificar quais serão os impactos ambientais desse evento. Em outra ocasião, ao falar sobre uma indústria, deve-se procurar pelo impacto ambiental gerado pela empresa. E ainda, ao falar sobre economia, é plausível questionar o que determinado plano econômico ou diretriz econômica significa para o desenvolvimento sustentável.  

Novaes: transversalidade deve começar na graduação 




Comunicação e natureza...

...os simples sinais não interpretados pelo homem


BRUNA SAMPAIO
Estudante de Jornalismo




  A evolução do homem é visível. Não apenas na forma de locomoção ou alimentação, mas como hoje nos comunicamos. Se compararmos a milênios atrás, ainda quando éramos “das pedras”, a comunicação já existia. Ela estava nos desenhos das rochas, nos gestos, na caça, na sobrevivência. O homem aprendeu a comunicar-se com a natureza, para obter dela seu sustento e bem-estar. Aprendeu a respeitar ao próximo, a delimitar espaços e a respeitá-los. 
  Há milhares de anos a comunicação foi utilizada de forma salutar aos seres vivos. Naquela época, tudo que respirava, respeitava. Tudo que trocava experiência e se doava, usava a comunicação de forma benéfica para se expressar. 


John Nyberg 
  Por isso que expressão e comunicação sempre estiveram presentes em todos os momentos da existência. Da pré-história à era das mídias sociais, elas permanecem. 
  Mas a mudança é nítida. Do desenho na pedra ao papel e caneta. Do papel e caneta às teclas e telas. Das mímicas e ruídos à linguagem e idiomas. Dos pombos correios ao telefone, do telefone ao celular, do celular à internet, da internet... A evolução é clara. Ela é imensa e chega até ser assustadora. A cada segundo uma nova ideia, a cada minuto uma nova tecnologia e momentaneamente interagimos com tudo que acontece no mundo. 
  Quando antes imaginávamos que era apenas cavar um grande buraco no quintal e, depois de muito esforço, chegaríamos ao Japão, hoje, o esforço e imaginação são desnecessários, pois o Japão está no quintal de casa. O Japão e o mundo. O mundo e todas as pessoas. Comunicação, conectividade, interação e conhecimento. 


Hidden
   O buraco é história, a carta é e-mail, a foto é digital, o telefone é móvel em qualquer lugar do mundo, a comunicação é agora e a notícia de um segundo atrás é velha. A pauta tem que ser momentânea e as pessoas ficam ligadas e conectadas entre si em um ‘piscar de olhos’... E em um ‘piscar de olhos’, tudo muda novamente. 
  Informação e transformação andam juntas e vinculadas. Se há transformação, há informação e é preciso ter adaptabilidade. O homem precisa se adequar aos novos meios, precisa estar conectado com as novas informações e tecnologias. As mudanças são necessárias, importantes e até mesmo imponentes. A televisão é fina, a imagem é nítida e o cinema está em casa. 
  Mesmo com tantas mudanças necessárias, costumes, respeitos e certas ideologias não devem ser esquecidos. A natureza também mudou. Fruto de atitudes humanas, ela nos responde, muitas vezes, de forma agressiva e revoltada. A comunicação se liga à natureza de forma tão diferente ao arco e flecha, ao toque nas pedras e as danças da chuva que ela grita e pede socorro. O homem que se [auto] impõe tão importante e inteligente, não consegue mais comunicar-se com a natureza. Os limites antes estabelecidos e o respeito antes respeitado são, hoje, colocados em interrogações infinitas e em respostas apenas irreais e imaginárias. 


Etem Colak 
  Vivemos em um planeta onde somos dependentes de comunicação e informação. Onde o ontem é tarde demais, os fatos acontecem em segundos e são noticiados agora. Vivemos a notícia ao vivo, conectados e [inter] ligados. 
  Mas, entre toda tecnologia e [ins]piração que sobrevive com o homem nesses milhares de anos, ainda tentamos entender a natureza, em vão. 
  Diante de plasmas, LCDs, LEDs, Ipods, Iphones e imagens nítidas, a natureza se põe a uma dimensão que ultrapassa a terceira, tão conhecida e popular dos cinemas. Diante de fatos reais e desastres naturais que presenciamos, vivemos e acompanhamos em tempo real, a natureza se comunica, se expressa e diz qual é sua linguagem e princípios. Ela deixa clara a certeza de que, os homo sapiens, ou melhor, o homem sábio, não a entende e chega a ser minúsculo perto de suas respostas e expressões. 


Meio ambiente deve estar na grade dos cursos de jornalismo


 No Brasil, seis faculdades oferecem disciplina voltada ao tema

VIEIRA JUNIOR


   Seis instituições de ensino superior no Brasil oferecem algum tipo de formação ambiental para os alunos de jornalismo já na graduação. Destas, quatro são federais e duas são particulares.  A professora Ilza Girardi é responsável pela inclusão da disciplina de jornalismo ambiental no curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), para ela “todo jornalista deve sair da universidade com o mínimo de conhecimento sobre o meio ambiente”.

Para Girardi, o jornalista conseguirá cobrar mudanças se entender sobre meio ambiente desde a graduação 
   "Professores que não são a favor da inclusão de uma disciplina sobre meio ambiente na graduação não estão compreendendo o que o Planeta Terra está nos dizendo. O esporte, por exemplo, é importante, mas o meio ambiente é uma questão de vida e o jornalismo tem o seu papel perante esse problema”, diz Girardi.


Instituição de Ensino

Informação sobre o curso
UFRG - Universidade Federal do Rio Grande do Sul,RS
A professora Ilza Girardi mantém a disciplina "jornalismo ambienrtal" na graduação do curso de Jornalismo
UFSM - Universidade Federal de Santa Maria, RS
Como disciplina complementar
PUC Rio de Janeiro, RJ
Cadeira criada pelo professor e jornalista André Trigueiro
Faculdade Seama - Macapá, AP
Como disciplina obrigatória.
UFG - Universidade Federal de Goiás
Desde 2005 a professora Lisbeth Oliveira ministra curso
UFS - Universidade Federal de Sergipe - Dep. de Artes e Comunicação
LICA - Laboratório Interdisciplinar de Comunicação Ambiental: mantém pesquisa e produção experimental

Heródoto  Barbeiro responde:  jornalista sai da graduação  preparado para cobrir  meio ambiente?
  
   Assim como Heródoto Barbeiro e José Pedro Maritns, a professora Girardi aponta que “o jornalismo deve sair do esquema de cobrir apenas catástrofes e assumir o seu papel educativo: mostrar para a população quais os caminhos para combater a degradação ambiental”. Mas para ela, fazer com que o jornalista aja desta forma significa preparar o profissional já na graduação.  


“Nós jornalistas somos, por natureza, educadores”, diz Heródoto Barbeiro

LARISSA MOLINA


O jornalismo é feito de informação que educa e transforma, segundo o jornalista Heródoto Barbeiro. Neste sentido, o desafio do jornalista ambiental do século 21 é conseguir cumprir o seu papel de educador. O caminho para esta vertente jornalística é ir além da denúncia sobre a degradação ambiental e construir uma consciência crítica na sociedade.

Foto: Bruna Sampaio

  No cumprimento deste papel educador, a TV tem grande responsabilidade para com a conscientização ambiental da população, isso porque segundo a Constituição Brasileira (capítulo 5°, art. 221) a televisão deve, preferencialmente, veicular produtos com finalidade educativa, informativa, cultural e artística. Além disso, pesquisas revelam que o brasileiro assiste TV cerca de 3h por dia (fonte: Portal Imprensa). 
   
  “Se o brasileiro está disponível na frente da televisão por tantas horas, por que não desenvolver excelentes matérias sobre meio ambiente e, assim, educá-lo, fazê-lo adquirir uma consciência crítica a respeito?”, fala Heródoto. 

Heródoto nega a existência do jornalismo sensacionalista



   A posição de Heródoto vai ao encontro da opinião do jornalista José Pedro Martins, articulista no impresso Correio Popular, para quem o jornalismo ambiental deve revolucionar a lógica da imprensa. Mas contraria a posição do jornalista responsável pelo grupo Envolverde - Jornalismo e Sustentabilidade , Adalberto Marcondes. Ele afirma que o "jornalista não é educador, jornalista  torna o público bem informado e não educado. Quem educa é o professor ou o educador ambiental. Não vamos confundir os papéis". 

  “O jornalismo, como também toda mídia, tem uma função educativa muito grande. As pessoas acordam já vendo notícia. É por isso que a mídia tem que ter noção de sua responsabilidade, do seu impacto na vida das pessoas”, afirma Martins. 


  Heródoto classifica como matéria educativa aquela que consegue promover a mudança de hábitos, a expectativa de vida e a construção de um ideal. Algumas profissionais exercem esse jornalismo educador e outros ainda não atingiram tal patamar, segundo o jornalista.

  “Muitas vezes as pessoas acreditam que exercer a educação ambiental é se tornar super-homem e salvar o planeta. Eu acho que não. E a coisa mais difícil é, exatamente, promover uma transformação em coisas que aparentemente parecem pequenas, como, por exemplo, questionar por que as pessoas não separam o lixo orgânico do lixo reciclável em casa. Mas o jornalista tem que transformar o ser humano”, diz Heródoto. 


Heródoto vê o jornalista, primeiramente, como cidadão


Água pura da fonte


VIEIRA JUNIOR
Estudante de jornalismo

Crédito: Vieira Junior


Sexta-feira, 23h45. Como de costume, eu estava em frente ao computador me dedicando às tarefas acadêmicas. Senti a garganta seca. Era de se esperar: bateu aquela sede! Insisti em esperar um pouco mais para buscar um copo de água, mas em questão de minutos o desconforto aumentou. Levantei e fui até a geladeira. Lá, nenhuma garrafa de água. Decidi ir até o outro filtro com o copo na mão. A água estaria em temperatura ambiente, mas o dia nem estava tão abafado.

Pressionei a torneira do pote. Nada! Não caiu uma gota se quer. “Como assim?”, questionei-me. Tirei o galão de água de cima do pote e, envolta dele, os dizeres: “Água pura da fonte”. Foi então que fiz o que todos já devem ter feito um dia: olhei dentro do pote para ver se restara um pouco de água e... Nada, estava seco! Já tinham feito isso antes de mim. Ninguém em casa percebeu que a água estava acabando e, quando perceberam, já era tarde, os postos já estavam fechados e as distribuidoras também.

Obviamente, coloquei o galão no lugar e, não sei o porquê, fui novamente para a geladeira. Claro, o resultado foi o mesmo. Guardei o copo e fui me deitar. Comigo, a sede.

Levantei de novo. Abre geladeira, fecha geladeira. Tira o galão do pote, põe o galão no pote. Nada. Água da torneira? Nem pensar. Moro em Americana, cidade que faz captação no rio Piracicaba, manancial considerado classe 4 em poluição - metal pesado é o mínimo que se encontra nessas águas. Dez minutos depois eu estava abrindo a torneira. Lá vem ela, límpida e incolor.

Nem sei explicar a sensação que senti, foi estranho. Levei o copo até a boca e... Não deu. A aparência límpida e incolor deu lugar ao cheiro forte de cloro e tantos produtos químicos que o líquido foi submetido no tratamento. O gosto então, insuportável! Aliás, desde as primeiras séries na escola aprendi que a água é um líquido incolor, sem cheiro ou gosto. Não, não é o que temos hoje. Claro, desisti de beber a água da torneira para evitar um problema maior de saúde.


Água potável possui antibióticos e outros poluentes, segundo Maria Guiomar Tomazello
Imagens: Tito Livio

Já passava da meia-noite e eu perambulava pela casa, até que tive a idéia mais brilhante: gelo. Com certeza tinha gelo em casa. Retirei-os de uma das formas e comecei a me saciar. Um, dois, três... A sensação não era das melhores, mas era o que tinha. No terceiro gelo, com a sede um pouco menos desesperadora, comecei a pensar em que ponto eu havia chegado. Hoje, na maioria das cidades é impossível pensar em abrir a torneira e saciar a sede. Os rios foram transformados quase em esgoto e, para quê? Pra saciar a sede de quem? E que sede é essa?

Na ânsia do consumismo desenfreado a humanidade avança por limites irreparáveis. Parece que ninguém da casa percebe que os recursos estão se acabando. Aliás, os que percebem, buscam guardar o último gole para si.  O Planeta Terra é a nossa casa e, se a população não se der conta de que tudo está se esgotando, chegará o momento em que será tarde demais... Não haverá para quem recorrer diante da sede - não só de água, mas de vida.

Nesse processo, destaco o papel da mídia que, em vez de utilizar o meio ambiente para promoção do chamado “marketing verde”, que favorece muitas empresas podres ambientalmente falando, deveria abrigar e repassar conceitos educativos e conscientizadores para a promoção do consumo sustentável. Todos da “casa” precisam acordar. Se os recursos acabarem, somente uma minoria terá acesso à vida. Sim, ela também será privatizada, como a água (de qualidade) já está. O futuro não é logo ali, é agora. Já vivemos as previsões catastróficas de anos atrás.  Basta “tirar o galão do pote” e ver que o planeta já não agüenta mais.

A água já está privatizada, segundo educadora ambiental

 Imagens: Tito Livio


O jornalismo ambiental deve revolucionar a lógica da imprensa


LARISSA MOLINA


Créditos: Bruna Sampaio
Tempestades tropicais, enchentes, furacões. Esses são apenas alguns exemplos de eventos ambientais retratados pela mídia somente pela ótica da tragédia sem abordar projetos e propostas de soluções desenvolvidas por cientistas. Essa é a principal falha da cobertura ambiental, segundo o jornalista José Pedro Martins que já publicou diversos livros sobre o meio ambiente. A justificativa do ato, para ele que já trabalhou como repórter e articulista no impresso Correio Popular, é que o jornalismo ambiental ainda segue a lógica da imprensa em pautar apenas assuntos críticos.  


 “Se ficarmos apenas na denúncia ou falar que o mundo está perdido, as pessoas não vão ter motivo para agir e, o jornalismo, como também toda a mídia, tem uma função educativa muito grande. As pessoas acordam já vendo notícia. É por isso que a mídia tem que ter noção de sua responsabilidade, do seu impacto na vida das pessoas”, diz Martins.          
  
Jornalismo ambiental falha ao não pautar má distribuição de água no Brasil



Para ele, além de não abordar apenas tragédias, o jornalismo ambiental também não deve ser desenvolvido somente em uma editoria, mas sim de forma transversal para se ter uma abordagem mais ampla e sair do abstrato.  

“Quando se fala em um tema ambiental, também tratamos de questões econômicas, culturais, sociais e políticas. Você tem que ter um contexto para mostrar o tema ambiental em si e não ficar só no aspecto biológico, só da crise ou só do acidente”, afirma.

Por defender mudanças na forma com que se faz jornalismo ambiental, Martins vê esta vertente jornalística em construção e distante de ser o ideal. A explicação dele para isso é pontuada em dois itens: poucas faculdades de jornalismo investem em disciplinas ambientais (no Brasil são seis) e o jornalismo ambiental é jovem no país; inicia-se na década de 70, em meio à ditadura militar e  começa sob censura e dificuldades para abordar o tema.